ANSIEDADE

“De cada vez que tenho um exame da faculdade, é a mesma coisa. Mais de uma semana antes já eu estou em stress – o estômago embrulha-se-me, durmo mal, só penso que vou chumbar. Quando lá chego, estou completamente de rastos e, obviamente, o exame nunca corre bem. E isto mesmo nos casos em que eu sei a matéria!”

O que é a ansiedade?

A ansiedade é algo que todos experienciamos de vez em quando, perante situações que, de alguma forma, sentimos como “ameaçadoras”. É difícil definir a ansiedade de uma forma que inclua todos os seus aspetos, mas é algo semelhante àquilo que frequentemente referimos como “nervosismo”. Talvez mais do que qualquer outra emoção, a ansiedade é frequentemente caracterizada por um conjunto de sintomas físicos: tensão muscular, batimento cardíaco acelerado, aumento do ritmo respiratório, dor de cabeça, náuseas e vómitos, sudação… Traduz-se em pensamentos assustadores sobre a (alta) probabilidade e as (péssimas) consequências de cenários indesejados. Emocionalmente, manifesta-se num estado de alerta, receio ou irritabilidade. Frequentemente, a ansiedade está associada a comportamentos “cautelosos” ou ao evitamento das situações “ameaçadoras”. Estes comportamentos e evitamentos servem para reduzir essa mesma ansiedade.

Medo e ansiedade.

Perante determinados acontecimentos, nomeadamente os que envolvem algum tipo de ameaça, o medo pode ser uma reação absolutamente adequada e adaptativa. Ele é uma resposta a uma ameaça iminente (real ou percecionada). Esta resposta prepara o indivíduo para a ação, permitindo que este tenha uma de duas respostas: atacar ou fugir. Assim, o medo é uma resposta biológica normal, concebida pela natureza para ajudar o indivíduo. Foi o que permitiu que os nossos ancestrais sobrevivessem aos ataques de predadores e a outros perigos. A ansiedade, por outro lado, relaciona-se com a antecipação de uma ameaça futura. Em níveis adequados, ela cria o estado de tensão e de alerta que nos permite “sobreviver” a exames, entrevistas de emprego ou situações em que temos que falar em público… No entanto, pode também acontecer que a pessoa experiencie níveis de ansiedade inadequados, ou seja, que se sinta demasiado ansiosa, demasiadas vezes e durante demasiado tempo. Nesses casos, a ansiedade torna-se não adaptativa: em vez de preparar a pessoa para a ação, passa a prejudicar essa mesma ação. É nesses casos que se torna importante tentar lidar com a ansiedade.

A ansiedade manifesta-se de diferentes formas.

Perante níveis elevados de ansiedade, as pessoas respondem de formas diferentes. A ansiedade pode, por exemplo, assumir a forma de uma fobia, ou seja, um medo exagerado ou irrealista de um objeto ou de uma situação específica: de cobras, do escuro, de ver sangue, de ir ao dentista, de espaços fechados, de espaços abertos…. Ou pode manifestar-se sob a forma de ataques de pânico , em que o medo dos sintomas de ansiedade acaba por exacerbar ou desencadear esses mesmos sintomas. Pode ainda tratar-se de ansiedade social , em que a pessoa sente uma ansiedade extrema num ou mais tipos de situação social. Ou ainda, pode surgir sob a forma de uma perturbação obsessivo compulsiva , caraterizada por pensamentos intrusivos, indesejados, recorrentes e geradores de ansiedade (obsessões), associados a atividades repetitivas que a pessoa sente que tem que realizar, e que visam diminuir essa ansiedade (compulsões). Por exemplo, um receio obsessivo de contaminação pode traduzir-se num comportamento compulsivo de lavar as mãos. Todas estas manifestações de ansiedade podem beneficiar da intervenção de um psicólogo.

A ansiedade não significa que algo no corpo “está a falhar”.

A ansiedade está associada a um conjunto de sintomas físicos, por vezes muito intensos. Por este motivo, é frequente as pessoas pensarem que estes se devem a um problema físico. Muitas vezes, quando chegam à primeira consulta com um psicólogo, já passaram por uma longa sequência de exames médicos, que não revelaram qualquer alteração a este nível. É importante recordar que o medo foi concebido pela natureza para ajudar o organismo. Os sintomas de ansiedade traduzem, no fundo, a preparação do organismo para a ação – a tensão muscular visa prepara os músculos para o movimento, o aumento do ritmo cardíaco serve para aumentar o fluxo sanguíneo, o aumento do ritmo respiratório serve para levar mais oxigénio até aos tecidos, e assim sucessivamente… Ainda que desagradáveis, estes sintomas não significam que o corpo “está a falhar”… de certa forma, significam precisamente o contrário, que o corpo está a reagir “como é suposto”.

Regular a ansiedade.

É importante ter em conta que não é possível (nem desejável!) trabalhar no sentido de eliminar a ansiedade de forma absoluta e permanente. Contudo, é possível reduzir esta ansiedade para níveis adequados e adaptativos. Uma boa notícia para as pessoas que sofrem de ansiedade é a de que, da mesma forma que aprenderam a ficar ansiosas, também lhes é possível aprender a relaxar. Nesta aprendizagem, a intervenção de um terapeuta pode ser decisiva. Num primeiro momento, pretende-se construir em conjunto com a pessoa uma explicação dos sintomas que lhes dê um sentido, e que permita estabelecer um plano para a intervenção. Dada a relevância das manifestações físicas de ansiedade, a intervenção incide aí, procurando reduzi-las para um nível em que se tornem mais fáceis de gerir. Isto é feito através da aprendizagem e prática de procedimentos de respiração e de relaxamento . Simultaneamente, dado o papel dos pensamentos assustadores, estes são também alvo de atenção. São identificados e analisados de forma objetiva, dando lugar a uma perspetiva mais realista sobre a probabilidade e as consequências dos piores cenários, bem como dos recursos da própria pessoa para lidar com estes, caso se verifiquem realmente.