DEPRESSÃO

“Desde há alguns meses que nem pareço eu. Farto-me de chorar, às vezes nem eu sei porquê, e nunca me apetece fazer nada. Não me lembro da última vez em que comi com apetite ou dormi um sono descansado. Parece que, ultimamente, tudo me corre mal…”

O que é a depressão?

A depressão é um dos problemas de saúde mental mais comuns. Carateriza-se por um humor negativo, persistente e prolongado que interfere com vários aspetos da vida da pessoa. Manifesta-se ao nível de:

  • pensamentos: a pessoa pensa de forma negativa sobre si própria, as suas experiências e o seu futuro. Poderá exagerar os aspetos negativos de uma situação, deixar de perceber os aspetos positivos ou passar a interpretar situações positivas ou neutras a uma luz negativa. Fica prisioneira do seu próprio pessimismo;
  • emoções: a pessoa pode sentir-se triste, ansiosa, desmotivada, exausta, culpada, vazia, desvalorizada, desesperada;
  • comportamentos: a pessoa pode evitar determinadas situações, deixar de fazer atividades que anteriormente lhe davam prazer, isolar-se relativamente às outras pessoas;
  • sintomas físicos: redução dos níveis de energia, alterações ao nível do sono (insónia ou dormir demais), do apetite (dificuldade em comer ou comer em excesso) e do desejo sexual (diminuição ou perda).

Tristeza e depressão.

Perante determinados acontecimentos, nomeadamente os que envolvem uma perda, a tristeza pode ser uma reação absolutamente adequada e adaptativa. É o caso da tristeza que acompanha a morte de uma pessoa que nos é querida, o fim de uma relação importante, a perda de um emprego... A tristeza acarreta uma quebra de energia que obriga o indivíduo a “desacelerar”, criando assim a oportunidade para este se adaptar a esta perda. Assim, a tristeza é uma resposta biológica normal, concebida pela natureza para ajudar o individuo. Pensa-se que contribuía para manter os nossos ancestrais, enquanto vulneráveis, nas proximidades dos lugares onde viviam, e onde estavam mais seguros. A pessoa que se sente triste pode esperar com algum grau de certeza que esta tristeza desapareça gradualmente. Algo diferente é a depressão – causada pelas situações anteriormente referidas, com outras causas ou sem causa aparente - que se torna demasiado intensa, incapacitante ou que se prolonga há demasiado tempo. Este segundo tipo de situação precisa muitas vezes de ser abordado diretamente para que possa evoluir e desaparecer.

A depressão manifesta-se de diferentes formas.

Na sua forma mais “leve”, a depressão traduz-se em a pessoa sentir-se “em baixo”. Consegue fazer as atividades normais da sua vida, mas fá-las com mais esforço e, muitas vezes, com a perceção de que essas atividades nada significam, ou de que o seu esforço é em vão. Na sua forma mais grave, a depressão é incapacitante, e surge associada a pensamentos recorrentes sobre a morte, com pensamentos sobre suicídio, planos concretos de suicídio ou mesmo tentativas de suicídio. Além disso, a intensidade dos sintomas, para a mesma pessoa, é variável. Em geral, a pessoa sente-se melhor à medida que o dia avança, mas em algumas pessoas os sintomas pioram à noite. É natural haver dias piores e dias melhores. Quando a pessoa se sente bem durante alguns dias, isso cria a falsa impressão de que está a melhorar. Contudo, se ao fim de algum tempo estes sintomas continuarem constantemente a voltar, é razoável assumir que eles não vão desaparecer por si. Neste caso, pode ser importante procurar ajuda.

A depressão não é sinal de “fraqueza”.

Acredita-se que a depressão tenha uma base bioquímica, ao nível dos mecanismos que controlam o estado de humor. Esta base bioquímica poderá ser parcialmente genética e parcialmente adquirida ao longo da vida. Nas pessoas predispostas, os acontecimentos perturbadores ou as fases críticas da sua vida mais facilmente “disparam” a depressão. Uma vez instalada, a depressão tende a perpetuar-se a si própria. Quando não existe uma causa visível, e a pessoa não consegue entender o porquê de se sentir desta forma, a sensação de perda de controlo pode agravar os sintomas depressivos. Além disso, a tendência, que carateriza a depressão, para interpretar todas as experiências a uma luz pessimista contribui para que a tristeza, a inércia e todos os outros aspetos da depressão tendam a manter-se ou mesmo a agravar-se. Muito importante é salientar que a depressão não é sinal de preguiça, falha de carácter ou falta de força de vontade. Aliás, grande parte das pessoas deprimidas têm altíssimos padrões de exigência pessoal o que constitui, isso sim, um dos agravantes dos seus sentimentos de depressão.

A depressão é tratável.

Muitas vezes é difícil para uma pessoa deprimida acreditar que poderá algum dia vir a deixar de o estar, e isto deve-se precisamente ao pessimismo que é inerente à própria depressão. Portanto, o que aqui se sugere é que, mesmo mantendo como hipótese a ideia de que “isto não vai mudar”, a pessoa se dê a si própria a possibilidade de descobrir o contrário. É sempre mais difícil combater a depressão sozinho, principalmente quando a pessoa, provavelmente, já se sente só e sem “saídas” durante grande parte do tempo. O apoio de um terapeuta pode fazer uma grande diferença. Num primeiro momento, pretende-se construir em conjunto com a pessoa uma explicação dos sintomas que lhes dê um sentido, e que permita estabelecer um plano para a intervenção. Dada a relevância dos “pensamentos pessimistas” na manutenção e agravamento da depressão, uma importância particular é dedicada a estes pensamentos. Estes são alvo de atenção, reflexão e, eventualmente, de mudança. Isto não é pensamento positivo! É pensamento realista, que se opõe ao pensamento pessimista da depressão. E tem impacto ao nível da forma como a pessoa se sente, se comporta, e se relaciona com os outros.