COMPORTAMENTO NÃO ASSERTIVO

“Faço sempre a vontade aos outros, mesmo quando acho que o que me pedem não é razoável, e as pessoas acabam sempre por me pedir mais e mais. E eu, claro, faço, mas vou enchendo… E depois expludo. Às vezes, é por uma coisinha de nada, a gota de água, que faz transbordar o copo. E aí, as pessoas ficam zangadas comigo!...”

O que é o comportamento assertivo?

O comportamento assertivo é aquele que envolve a expressão direta, pela pessoa, das suas necessidades ou preferências, emoções e opiniões. Ao fazê-lo, ela não sente ansiedade indevida ou excessiva, e também não é hostil para a outra pessoa. É, por outras palavras, o comportamento que permite defender os próprios direitos sem violar os direitos dos outros. Alguns exemplos de comportamento assertivo são:

  • Auto-afirmação: capacidade de defender direitos legítimos; capacidade de expressar posições pessoais; capacidade de fazer e recusar pedidos;
  • Expressão de sentimentos positivos: capacidade de iniciar e manter conversas; capacidade de fazer e receber elogios; capacidade de expressar afetos positivos;
  • Expressão de sentimentos negativos: capacidade de estabelecer limites, capacidade de fazer e receber críticas; capacidade de expressar afetos negativos legítimos. A expressão de sentimentos negativos (como a zanga) é, para algumas pessoas, o aspeto mais problemático.

Zanga e agressividade.

Perante determinados acontecimentos, nomeadamente os que envolvem algum tipo de ataque, a zanga pode ser uma reação absolutamente adequada e adaptativa. É comum sentirmo-nos zangados quando somos atacados, insultados, enganados ou frustrados. A zanga envolve uma onda de energia, que permite uma ação vigorosa. Assim, é uma resposta biológica normal, concebida pela natureza para ajudar o individuo. Foi o que permitiu que os nossos ancestrais se defendessem e sobrevivessem. Assim, estar zangado não é um problema. Mas a forma como lidamos com a zanga pode ser. A zanga torna-se um problema quando nos leva a magoar os outros ou a nós próprios. Quando não a expressamos, ou a expressamos de forma destrutiva, ou em alturas inadequadas, prejudicamo-nos a nós próprios e às nossas relações com os outros. As diferentes formas de comportamento não assertivo podem ser encaradas como formas problemáticas de lidar com a zanga.

Diferentes formas de comportamento não assertivo.

  • Comportamento Passivo: É aquele em que a pessoa falha na expressão das suas necessidades, preferências, emoções e opiniões. Na medida em que a pessoa que tem este comportamento é a primeira a violar os seus próprios direitos, acaba por dar ao outro a permissão para, também ele, o fazer. Exemplos: aceder a realizar atividades que não lhe interessam só porque isto lhe foi solicitado, não pedir um favor que é legítimo e do qual se necessita, não manifestar desacordo perante algo com que não se concorda…
  • Comportamento Agressivo: É aquele em que a pessoa expressa as suas necessidades, preferências, emoções e opiniões, mas de uma forma que é hostil, exigente, ameaçadora ou punitiva para com o interlocutor. A pessoa que tem este comportamento defende os seus direitos, mas fá-lo à custa de uma violação evidente dos do outro. Exemplos: insultos, ameaças, sarcasmo, violência física…
  • Comportamento Manipulativo: É aquele em que a pessoa expressa as suas necessidades, preferências, emoções e opiniões, mas de uma forma implícita ou indireta. A pessoa que tem este comportamento procura a satisfação das suas necessidades violando os direitos dos outros, frequentemente sem que estes se apercebam. Exemplo: mensagens cujo objetivo é levar o interlocutor a sentir-se tão culpado ou responsável pela pessoa que fará o que ela quer, ainda que contra a sua vontade (por exemplo, “se fosses mesmo meu amigo, fazias…”)

A assertividade é uma escolha.

A assertividade não é uma característica inata que se tem ou não. As aprendizagens que uma pessoa fez ao longo da vida conduzem a que, no momento atual, ela tenha maior ou menor capacidade para se comportar de forma assertiva, num maior ou menor número de situações. Assim, da mesma forma que aprendeu o comportamento não assertivo, a pessoa pode aprender a assertividade. Que vantagens tem em fazê-lo? Os comportamentos que temos não ocorrem no vazio. Eles repercutem sobre a pessoa que os tem e sobre aquela que os recebe, quer de forma imediata, quer a longo prazo. Os comportamentos não assertivos têm, a curto-prazo, algumas consequências positivas para o próprio. Por exemplo, o comportamento passivo permite evitar conflitos, o comportamento agressivo e o comportamento manipulativo permitem obter o que se quer. Em algumas situações, estes comportamentos poderão até ser a escolha mais adequada. Contudo, as suas consequências são, num balanço global, negativas, e contribuem para o deteriorar das relações. O comportamento passivo resulta em que a pessoa se sinta cronicamente desrespeitada, o comportamento agressivo ou manipulativo tenderá a alienar os outros. Os comportamentos assertivos têm maior probabilidade de ser vantajosos – para o próprio e para o outro, no imediato e a longo prazo.

Aprender a assertividade.

A intervenção de um terapeuta pode contribuir para que a aprendizagem da assertividade seja significativamente mais fácil e mais rápida. Num primeiro momento, pretende-se construir em conjunto com a pessoa uma explicação das suas dificuldades que lhes dê um sentido, e que permita estabelecer um plano para a intervenção. Dado o papel de alguns pensamentos da pessoa como “bloqueadores da assertividade”, uma atenção particular é dedicada à identificação, análise e mudança destes pensamentos. A intervenção pode também passar pela aquisição e treino de um conjunto de comportamentos que permitam à pessoa defender os seus direitos de uma forma que seja eficaz.