PERTURBAÇÃO OBSESSIVO COMPULSIVA

“O meu dia-a-dia é um inferno. Entre os pensamentos perigosos, e as coisas que tenho que fazer para que nada de mal aconteça, acabo por não conseguir fazer mais nada da minha vida”

O que é a perturbação obsessivo compulsiva?

Diz-se que uma pessoa tem perturbação obsessivo compulsiva quando esta fica presa num ciclo de obsessões e compulsões. As obsessões são pensamentos, imagens ou impulsos indesejados ou intrusivos, que surgem de forma repetitiva. A pessoa experiencia estas obsessões como estando fora do seu controlo e, na maioria dos casos, reconhece que não fazem sentido. As obsessões desencadeiam um desconforto intenso, que pode traduzir-se em ansiedade , repulsa, dúvida ou uma sensação de que as coisas têm que ser feitas exatamente “daquela maneira”. As compulsões são comportamentos ou pensamentos repetitivos, que a pessoa utiliza com o objetivo de neutralizar, contrariar ou eliminar as obsessões e/ou diminuir o desconforto. Contudo, muitas vezes, o processo de repetição das compulsões também gera desconforto e o alívio é pouco ou nulo, e sempre temporário. Tanto as obsessões como as compulsões podem consumir muito do tempo e da energia da pessoa, e interferir de forma significativa com várias áreas da sua vida.

O que é e não é perturbação obsessivo compulsiva.

Nem tudo o que parece “obsessão” o é efetivamente. A maioria das pessoas tem pensamentos indesejados e intrusivos ocasionalmente (nomeadamente preocupações sobre saúde, segurança, não cometer erros…). O que distingue a perturbação obsessivo compulsiva é que, nestes casos, estes pensamentos surgem com grande frequência, e desencadeiam um desconforto extremo. Da mesma forma, nem todas as atividades repetitivas constituem “compulsão”. O nosso quotidiano apresenta vários exemplos de atividades repetitivas que não são problemáticas (as rotinas quotidianas, as práticas religiosas, a repetição associada à aquisição de uma nova competência...) Em outros casos, o comportamento compulsivo traduz um traço da personalidade da pessoa (uma preferência pela minúcia, pela ordem, pelo rigor…) O que distingue a perturbação obsessivo compulsiva é que, nestes casos, a pessoa sente-se compelida a ter esses comportamentos para eliminar ou reduzir as obsessões e o desconforto associado a elas, mas fá-lo contra o que seria a sua vontade. As “verdadeiras” obsessões e compulsões estão associadas a um sofrimento elevado e a um impacto significativo na vida da pessoa.

Obsessões e compulsões comuns.

Obsessões:

  • Contaminação: Por fluidos corporais (sangue, urina, fezes…), por germes (herpes, hiv…), por fatores ambientais (amianto, radiação, produtos químicos…);
  • Perda de controlo: Medo de agir impulsos para se comportar de forma inadequada, ou para se magoar a si próprio ou a outros;
  • Causar dano: Medo de, por descuido, ser responsável por uma catástrofe (um incêndio, um assalto, um acidente…);
  • Perfeccionismo; Preocupação com ordem e exatidão, preocupação com a necessidade de saber ou recordar algo…;
  • Pensamentos sexuais indesejados: Medo de pensamentos, imagens e impulsos sexuais inaceitáveis para o próprio, (homossexualidade, comportamento sexual agressivo, incesto, pedofília…);
  • Obsessões religiosas: Preocupação sobre ofender deus, preocupação excessiva com questões morais…
Compulsões:
  • Lavagem e limpeza: Comportamentos que visam prevenir ou eliminar contaminação (lavagem excessiva das mãos, do corpo, dos dentes ou de objetos domésticos…);
  • Verificação: Comportamentos que visam prevenir ou confirmar que não se causou dano (que não ocorreu nenhum erro, ou catástrofe…);
  • Repetição: Reler ou rescrever, repetir atividades rotineiras ou movimentos corporais, fazer algo um determinado número de vezes (como fazer uma tarefa x vezes porque x é um número “seguro”);
  • Mentais: Rever mentalmente os acontecimentos para prevenir dano, contar mentalmente durante uma tarefa para terminar num número “seguro”, “cancelar” ou “desfazer” (como utilizar uma palavra “boa” para anular uma má”).

Perturbações relacionadas.

As chamadas perturbações relacionadas com obsessão-compulsão, ou perturbações do espetro obsessivo compulsivo, partilham entre si algumas caraterísticas comuns, mas diferem ao nível de outras caraterísticas. Estas perturbações são:

  • Acumulação: Caraterizada por uma grande dificuldade da pessoa em deitar fora objetos que já não lhe são úteis;
  • Perturbação Dismórfica Corporal: Caraterizada por uma preocupação excessiva com uma “falha” percecionada, ao nível da aparência (face, pescoço, cabelo, ou outras partes do corpo);
  • Comportamentos Repetitivos Focados no Corpo: Caraterizada por comportamentos de puxar, arrancar, raspar ou morder, resultando em danos corporais (cabelo, pele, unhas ou outras partes do corpo);
  • Síndrome de Referência Olfativa: Caraterizado por uma preocupação excessiva com um “mau odor” corporal percecionado (hálito, axilas, genitais ou outras partes do corpo).
É importante distinguir estas perturbações, porque as intervenções respetivas poderão ser significativamente diferentes.

Intervir na perturbação obsessivo compulsiva.

Num primeiro momento, pretende-se construir em conjunto com a pessoa uma explicação dos sintomas que lhes dê um sentido, e que permita estabelecer um plano para a intervenção. Um tipo de intervenção comum é a promoção da exposição com prevenção de resposta. Ou seja, o terapeuta ajuda a pessoa a expor-se, de forma gradual, à obsessão, sem lhe responder da forma habitual, através do comportamento compulsivo. Isto permite que ocorra uma habituação, isto é, uma descida gradual do nível de ansiedade. Outro tipo de intervenção é feito sobre a obsessão, de forma a que esta deixe de ser encarada como altamente significativa e ameaçadora, e possa ser compreendida como um pensamento entre outros, e tão “normal” como eles.