Mito 6: A terapia é para "desabafar"

A pessoa que procura terapia espera, por vezes, que esta funcione como um espaço onde possa "deixar" as suas dificuldades, e de onde possa sair "mais leve". E, realmente, a terapia passa por explorar as situações que perturbam a pessoa e os respetivos impactos. Muitas vezes, oferece-lhe um espaço para abordar, pela primeira vez, aquilo que nunca antes partilhou com ninguém. Frequentemente, a pessoa relata sentir-se "aliviada" no final da sessão. Contudo, uma terapia não se esgota neste propósito. À medida que progride, pretende-se que a pessoa desenvolva uma perspetiva sobre o papel que desempenha nas dificuldades que descreve, até porque é nesse papel que vai incidir a mudança. E que, gradualmente, comece a ver escolhas onde antes pensava que não as tinha, e soluções onde antes apenas via problemas. Isto significa que a necessidade de "desabafar" vai sendo progressivamente menor.

A terapia pretende ser um contexto seguro para partilhar questões sensíveis. E isso é importante, mas não é tudo. Uma parte importante da terapia relaciona-se com o (re)conhecimento de que essas questões são passíveis de serem não apenas partilhadas, mas também transformadas. A terapia é um contexto de partilha, mas também de transformação.