CLIENTES LGBT

“Na verdade, sempre me senti diferente dos outros rapazes. E os colegas da escola não me deixaram esquecer essa diferença… fizeram-me a vida num inferno. Tem sido um caminho difícil, mas cada etapa superada trouxe-me coisas muito boas. Ultimamente, tem-me apetecido contar à minha família. Talvez seja o próximo passo. Mas tenho medo da reação deles.”

Clientes LGBT.

A designação “orientação sexual” refere-se às atrações, desejos e fantasias da pessoa, ou seja, se estes se referem sobretudo a pessoas do mesmo sexo (homossexual), a pessoas do sexo oposto (heterossexual) ou a pessoas de ambos os sexos (bissexual). A orientação sexual constitui um aspeto relativamente estável da identidade da pessoa, sendo o seu comportamento sexual mais variável. As pessoas com identidade LGBT procuram terapia por diferentes razões, algumas das quais em nada se relacionam com essa identidade. Mesmo nos casos em que a procura de terapia se relaciona com a identidade LGBT, esta identidade é experienciada de formas diferentes por diferentes pessoas, em diferentes momentos e em diferentes contextos, pelo que cada processo é único. Contudo, existem alguns temas comuns nos clientes LGBT. Estes temas não são intrínsecos à orientação sexual, que não representa, em si mesma, um problema. Estão antes relacionados com as dificuldades e stresses adicionais que incidem sobre pessoas com uma orientação sexual minoritária. Seguem-se alguns destes temas comuns.

Desenvolvimento de identidade.

O desenvolvimento de identidade, em pessoas LGBT, envolve os processos mediante os quais elas adquirem uma identidade LGBT, bem como os processos necessários para estabelecer e manter, durante a vida, uma identidade que seja positiva. Estes processos são frequentemente referidos como “coming out”. Há que ter em conta que as pessoas LGBT crescem geralmente em contextos heterossexuais, heterocêntricos e, por vezes, homofóbicos. Frequentemente, a própria pessoa LGBT internalizou perspetivas homofóbicas presentes nesses contextos. Os processos de “coming out” desenrolam-se neste enquadramento, e são influenciados por ele. Começam geralmente na infância, com uma consciência de “ser diferente”. Durante a adolescência, esta consciência pode associar-se a uma perceção de si próprio como “sexualmente diferente”. Esta diferença pode ser sentida como inaceitável e vivida em isolamento, resultando em dificuldades emocionais e comportamentais. Segue-se, habitualmente, uma maior tolerância da identidade LGBT. A pessoa poderá viver uma vida dupla: uma heterossexual, perante a família e amigos, e outra LGBT, permitindo-se procurar pessoas e grupos LGBT de forma a satisfazer necessidades sociais, emocionais e sexuais. Segue-se, geralmente, uma progressiva aceitação da identidade LGBT e, por vezes, uma identificação intensa com uma identidade homossexual. Um resultado desejável deste percurso será a integração da identidade LGBT no sentido geral que a pessoa tem de si própria, e que engloba também outras componentes.

Relações de casal e parentalidade.

Ao contrário dos seus pares heterossexuais, que são geralmente encorajados a desenvolver relações amorosas, as pessoas LGBT poderão ter experienciado desaprovação, crítica ou mesmo proibição relativamente a expressar e explorar atrações românticas e sexuais. Assim, muitas pessoas LGBT entram na idade adulta sem ter tido muitas oportunidades de desenvolver competências ao nível das relações de casal. Constata-se também que a legitimidade e o reconhecimento familiar e social geralmente atribuídos aos casais heterossexuais, nem sempre são igualmente atribuídos a casais homossexuais, cuja relação poderá ser encarada como menos significativa. Assim, um casal homossexual poderá ter maior dificuldade em negociar a forma e o significado da sua relação, entre si e perante os outros. Há ainda que considerar as dificuldades particulares de uma pessoa não-heterossexual numa relação com uma pessoa de outro sexo (que poderá ou não conhecer a identidade LGBT do parceiro). Finalmente a parentalidade em casais com pelo menos um parceiro LGBT também não é isenta de dificuldades. A pesquisa sobre crianças com um ou ambos os pais LGBT mostra resultados semelhantes aos dos seus pares criados por pais heterossexuais, em termos de funcionamento emocional, intelectual e comportamental. Ainda assim, é provável que estes pais enfrentem maiores desafios que os casais heterossexuais ao nível da validação social do seu papel parental.

Famílias de origem e famílias escolhidas.

Para os elementos de outras minorias (étnicas, religiosas, etc), a família pode ser um importante fator de proteção, proporcionando modelos positivos, estratégias de resolução de problemas e oportunidades de relacionamento com outros elementos do mesmo grupo. As pessoas LGBT, contudo, crescem geralmente em famílias heterossexuais, pelo que esses recursos não estão disponíveis da mesma forma. O processo de “coming out” raramente é feito a um dos pais em primeiro lugar. A primeira reação da família é, habitualmente, negativa. Contudo, é importante considerar que o facto de a família não aceitar a identidade LGBT da pessoa num primeiro momento não significa que nunca o virá a fazer. A própria família irá, provavelmente, atravessar o seu próprio processo de aceitação. Por todos estes motivos, as pessoas LGBT podem “complementar” a família de origem com uma família escolhida, envolvendo um parceiro, os filhos (biológicos ou adoptados), uma rede abrangente de amigos (LGBT, mas não só) e, com alguma frequência, anteriores parceiros. Esta família escolhida poderá constituir a fonte primária de apoio.

A intervenção com clientes LGBT.

Pode ser feita individualmente ou com o casal. Num primeiro momento, pretende-se construir em conjunto com a pessoa/ o casal uma explicação dos problemas que lhes dê um sentido, e que permita estabelecer um plano para a intervenção. Nesta intervenção, os temas aqui referidos poderão ser irrelevantes, importantes, ou fundamentais.