ANSIEDADE SOCIAL

“Detesto ir a sítios onde sei que vou ter que falar com outras pessoas. Só consigo pensar que vou acabar por dizer ou fazer alguma coisa estúpida, e que as pessoas vão achar que sou esquisito. Geralmente começo a tremer e a transpirar, fico vermelho, e não consigo dizer nada de jeito… É horrível! Por causa disto, acabo por me isolar bastante e, quando estou em situações sociais, colo-me à pessoa que conheço melhor e sigo-a para todo o lado...”

O que é a ansiedade social?

Diz-se que uma pessoa tem ansiedade social quando esta sente uma ansiedade extrema num ou mais tipos de situação social, e esta ansiedade faz com que passe a evitar essas situações, ou que as suporte com grande desconforto. Algumas situações problemáticas comuns são: estar em sítios com muitas pessoas, conhecer pessoas, ser o centro das atenções (falar em público, ser alvo de uma piada…), ser observado enquanto se faz qualquer coisa (comer, escrever, falar ao telefone…). Manifesta-se em pensamentos sobre o próprio (a pessoa vê-se como inepta, estranha, ridícula…) e sobre os outros (a pessoa vê-os como altamente confiantes, competentes e críticos…). A pessoa exige de si própria um desempenho social perfeito, espera ter um desempenho “fraco”, e acredita que isso vai ser notado e desaprovado pelos outros (espera ser julgada, ridicularizada, rejeitada…). Emocionalmente, a pessoa vive estas situações com uma ansiedade elevada e persistente. Sente-se excessivamente auto-consciente (da aparência que tem, dos seus gestos, da forma como soa quando fala…). Pior: acredita que os outros vão perceber que está ansiosa, o que aumenta ainda mais essa ansiedade… Por tudo isto, a ansiedade social está associada a comportamentos de evitamento das situações sociais, ou de evitamento de aspetos específicos dessas situações (por exemplo, evitar o contacto visual, falar muito pouco ou muito depressa, “esconder-se” a um canto ou manter-se em movimento…)

Timidez e ansiedade social.

Por vezes, uma infância marcada pela timidez prolonga-se, geralmente a partir do meio da adolescência, para um quadro de ansiedade social. Contudo, timidez e ansiedade social são coisas diferentes. Todas as pessoas se sentem tímidas numa ou noutra situação social (por exemplo, quando têm que falar em público). Contudo, a sua ansiedade é pontual, temporária e relativamente pequena até nas situações que consideram mais difíceis. Além disso, esta ansiedade não é suficientemente intensa para que evitem sistematicamente essas situações. Na ansiedade social, por outro lado, esta ansiedade surge de forma extrema, num ou mais tipos de situação social, e condiciona fortemente a vida da pessoa. Ou seja, todas as pessoas se sentem tímidas ocasionalmente, mas nem todas desenvolvem ansiedade social.

A ansiedade social manifesta-se de diferentes formas.

A ansiedade social é uma perturbação mais comum do que se pensa. Devido ao seu desconforto em situações sociais, a pessoa tende a evitá-las e, quando presente, tende a ficar quieta e calada e a “tornar-se invisível”. Por este motivo, as pessoas com ansiedade social costumam passar despercebidas. A ansiedade social apresenta-se de diferentes formas, e em diferentes graus. Para algumas pessoas, a ansiedade social é específica, ou seja, só se manifesta em algumas situações sociais. Contudo, para a maior parte das pessoas que sofrem deste problema, as situações problemáticas são múltiplas. No extremo, as pessoas com ansiedade social generalizada sentem-se ansiosas em quase todas as situações sociais.

“Enfrentar” as situações não basta.

Existe um conjunto de dinâmicas que fazem com que a ansiedade social se mantenha. Em primeiro lugar, a pessoa evita as situações problemáticas, e por isso não se habitua a elas e não chega a perceber que pode ter um desempenho social adequado e sem ansiedade. Contudo, a mera exposição às situações problemáticas não faz com que estas deixem de o ser. Aliás, por mais que tenha tentado evitá-lo, o ansioso social teve, até ao momento, que lidar com pessoas numa infinidade de situações – se a exposição por si só resultasse, ele já não teria ansiedade social. Existem alguns aspetos adicionais a considerar. Pode acontecer que a expectativa de sentir ansiedade (“vai correr mal”) aumente a probabilidade de sentir essa ansiedade (e a situação “corre mal”) confirmando a expetativa da pessoa (“eu sabia que ia correr mal”). Ou pode acontecer que a expetativa de um “mau” resultado não se confirme, mas a pessoa conclua que sim. Isto porque face a uma expetativa, a pessoa vai procurar factos que a confirmam (nem que seja preciso inventá-los) e ignorar todos os que o contrariam. Ela pode, por exemplo, focar a sua atenção numa interação em que se sentiu ansiosa, e ignorar todas as outras, que fluíram com facilidade. De uma forma ou de outra, a ansiedade social sai reforçada, e assim sucessivamente, num ciclo vicioso.

Quebrar o ciclo vicioso da ansiedade social.

Para alguém que sofre de ansiedade social, a ideia de falar sobre ela com outra pessoa, ainda que se trate de um terapeuta, pode ser assustadora. Por esse motivo, o facto de o conseguir fazer, em si, já é uma mudança. Para quebrar o ciclo vicioso, a intervenção de um terapeuta pode ser decisiva. Num primeiro momento, pretende-se construir em conjunto com a pessoa uma explicação dos sintomas que lhes dê um sentido, e que permita estabelecer um plano para a intervenção. Um terapeuta sabe que a mera exposição às situações problemáticas não faz com que estas deixem de o ser. Portanto, a intervenção, além de ajudar a pessoa a expor-se às situações em causa, ajuda a pessoa a experienciar essas situações de forma diferente, incidindo sobre os pensamentos, as emoções e os comportamentos relevantes. Pretende-se quebrar o ciclo vicioso da ansiedade social nos seus diferentes pontos.