AUTO-ESTIMA E AUTO-ACEITAÇÃO

“Conhece a história do patinho feio? Pois, sou eu. Passei a vida a comparar-me com os outros, e a sentir-me menos tudo. Menos bonito, menos inteligente, menos interessante. Diz que, mais à frente na história, o patinho feio se transforma em cisne… Mas, sinceramente, não estou a ver que isso vá acontecer”

O que é a auto-estima?

O termo “estima” deriva do verbo estimar, que significa “avaliar”. A auto-estima refere-se a uma avaliação do próprio. E este “próprio” é uma entidade extremamente complexa e em permanente transformação, que inclui, para cada pessoa, todos os seus comportamentos, todos os seus pensamentos, imagens e sonhos, todos os seus sentimentos, emoções e sensações, bem como as suas caraterísticas físicas e de personalidade, ao longo de toda a sua vida. Assim sendo, até que ponto é possível uma pessoa avaliar-se a si mesma? Pois. Não é. E até que ponto pode comparar-se com os outros? Pois. Não pode. Quando uma pessoa se refere à sua auto-estima, quer dizer que atribui ao conjunto de todos os seus aspetos uma avaliação total e permanente, que pode ser negativa ou positiva… mas dificilmente será adequada.

Auto-Depreciação.

A auto-estima, isto é, a avaliação total e permanente do próprio, surge como um problema sobretudo quando é negativa. Nestes casos, a pessoa diz de si própria que tem “baixa auto-estima”. Isto corresponde, geralmente, a uma tendência para, face a determinados acontecimentos, a pessoa lhes atribuir um significado que leva a que se sinta mal consigo própria. Chamamos a isto auto-depreciação. A auto-depreciação pode estar na base de alguns problemas emocionais. A tradução de um fracasso ou de uma perda em “sou um falhado” pode estar associado à depressão; o receio de um mau desempenho que revele que “sou incapaz” pode estar associado à ansiedade; a interpretação de uma infração ética ou moral como “sou má pessoa” pode estar associada à culpa; a interpretação de um comportamento inadequado como “sou ridículo” pode estar associada à vergonha… A auto-depreciação pode ser:

  • geral (ocorrendo em muitas áreas da vida da pessoa) ou específica (circunscrita a determinada área);
  • incondicional (ocorre independentemente das experiências da pessoa) ou condicional (ocorre ou não dependendo do que a pessoa faz, do que lhe acontece, da forma como a tratam);
  • explícita (afirmada claramente pela pessoa) ou implícita (em pano de fundo, dando significado às suas experiências).

Auto-Aceitação.

A “alta auto-estima” raramente é apresentada como um problema pelas pessoas. Contudo, ainda que positiva (menos mal!), a avaliação que a pessoa faz de si própria continua a ser total e permanente. E uma avaliação deste tipo existe até ao dia em que algo ou alguém a põe em causa… de forma total e permanente. Um bom contraponto à auto-estima (baixa ou alta) é a auto-aceitação. Cada pessoa pode avaliar os diferentes acontecimentos da sua vida, e os vários aspetos de si própria - comportamentos, pensamentos, emoções… Esta reflexão é importante, e é o que permite que a pessoa se conheça e, dessa forma, consiga tomar decisões e fazer mudanças que funcionem para si. Contudo, estes aspetos não são lidos em termos de valor pessoal, ou seja, a pessoa não se avalia a si própria como um todo. Um fracasso não significa que “sou um falhado”, uma dificuldade não significa que “sou incapaz”, uma infração não significa que “sou mau” e uma inadequação não significa que “sou ridículo”. Estes aspetos fazem parte da pessoa, mas não são a pessoa. Esta perspetiva é mais fácil de gerir em termos emocionais. Poderei ficar triste, mas não deprimido. Preocupado, mas não ansioso. Arrependido, mas não culpado ou envergonhado. Além disso, desta perspetiva, é mais fácil ver a mudança como possível, e o próprio como suficientemente complexo e flexível para tentar e conseguir essa mesma mudança. De certa forma, “aceitar-se” não significa “resignar-se”… pode significar exatamente o contrário.

Auto-Conceito, Auto-Eficácia e Auto-Imagem.

No âmbito da auto-estima, alguns conceitos mais específicos serão:

  • Auto-Conceito: os padrões de exigência que a pessoa impõe a si própria. Resulta dos valores que interiorizou ao longo da vida sobre o que é “certo” e “errado”. Se são demasiado perfeccionistas, ou se a adesão a eles é demasiado rígida, isso traduz-se não só num conjunto de consequências emocionais, como numa perda de liberdade pessoal para pensar e decidir de acordo com as circunstâncias e as necessidades de cada momento;
  • Auto-Eficácia: A convicção, maior ou menor, que a pessoa tem de que consegue atingir os resultados que pretende. Envolve uma análise quer das dificuldades em causa, quer das próprias capacidades. A história de sucessos e fracassos de cada pessoa e, sobretudo, a forma como estes foram interpretados por ela, pode traduzir-se numa perceção de incapacidade de controlar a sua própria vida que pode, inclusive, impedi-la de tentar obter os resultados que pretende;
  • Auto-Imagem: o julgamento estético que a pessoa faz sobre o seu aspeto físico. Resulta dos valores que interiorizou ao longo da vida sobre o que é “bonito” e o que é “feio”. A auto-imposição de padrões de beleza convencionais traduz-se numa desvalorização, pela pessoa, das suas caraterísticas que não correspondem a esses padrões.
A auto-aceitação pode passar por uma reflexão crítica sobre estes três temas.

Promover a auto-aceitação.

Num primeiro momento, pretende-se construir em conjunto com a pessoa uma explicação dos problemas que lhes dê um sentido, e que permita estabelecer um plano para a intervenção. Por vezes, os temas de auto-depreciação, auto-aceitação, auto-conceito, auto-imagem ou auto-eficácia fazem parte do objetivo inicial. Outras vezes, a pessoa procura a intervenção por outros motivos, e estes temas emergem durante a exploração dessas questões.